Centro Qualifica da Escola Profissional Amar Terra Verde                                    

Dia mundial da luta contra o cancro.

04-02-2022

No dia de hoje, deixamos o testemunho, em jeito de partilha, de uma amiga que é simplesmente inspiradora.

Gratos pela partilha!

Parabéns, Francisca! Sê sempre muito feliz!


                         «Vim, vi e venci»

Tudo começou em 2012, com uma tosse insistente e persistente. Não conseguia dizer uma frase sem ter de parar a meio para tossir. «Bem», pensei eu, «deve ser uma pneumonia mal curada» (pneumonia essa que nem me lembro de ter tido, mas convenci-me na mesma!). Depois, a minha irmã constatou que as minhas unhas cresciam em vidro de relógio, ou seja, curvadas. "Falta de alguma vitamina, só pode!" respondi. E veio, então, a intolerância às bebidas alcoólicas. Se bebesse uma gota que fosse, parecia que sufocava, não conseguia respirar (mais tarde vim a saber que era o tumor que pressionava a traqueia). Aí, já comecei a ficar um pouco preocupada, apesar de achar que se tratava de uma alergia e que teria apenas que passar a beber água ou sumos! Finalmente, vieram os resultados de uma TAC feita por acaso: existia um tumor enorme que estava alojado no meu mediastino. E começou aí a minha jornada: ida ao médico especialista com as minhas análises (com resultados assustadoramente descontrolados) e veio a terrível notícia: "A senhora tem um linfoma; tem 70% de hipóteses de sobreviver. É opção sua olhar para estes 70% e lutar ou para os 30% e desistir". Não preciso dizer que nesse dia, naquela hora, fiquei sem chão. Mas foi também nesse mesmo momento que decidi olhar só - e apenas - para os 70%.

E a partir daí veio a decisão de informar a minha família; mais difícil foi explicar aos meus filhos- a Maria tinha 5 anos e o Diogo 9 anos - e anunciar ao meu marido que se encontrava a trabalhar em Angola, sem correr o risco que ele fizesse as malas e viesse de imediato embora (o que acabou por acontecer, mesmo assim!). À minha mãe, já debilitada por causa de um AVC, disse apenas uma meia-verdade.

Fui encaminhada para o serviço de oncologia do Hospital de Braga na semana seguinte ao anúncio da doença. Fui sempre acompanhada lá por um médico considerado uma sumidade no que a linfomas diz respeito (que sorte!). Fiz duas biópsias: uma à medula óssea e outra incisional (através de uma mediastinoscopia). Resultado: linfoma de Hodgkin, estádio II. Foi aí que comecei a ter dificuldade em movimentar-me - cansava-me muito rapidamente. No dia 10 de julho de 2013 iniciei a quimioterapia; foram 5 ciclos (ou seja, dez sessões). No meio, veio a decisão de cortar o cabelo, curto, primeiro, e depois pente zero (foi o pior momento para a minha filha, que adorava pentear o meu cabelo comprido...); ainda fui de férias entre duas sessões de quimioterapia (que aconteciam de 15 em 15 dias). Sempre tentei manter um sorriso, mesmo nos piores momentos (que aconteciam sempre dois dias depois das sessões de quimioterapia, em que ficava prostrada, enjoada, sem vontade de nada). Apenas fui acompanhada na primeira sessão de quimioterapia. Adormeci enquanto me injetavam o «aniquilador de tumores» - num ritmo muito devagar, pois parecia que o sentia a percorrer o meu braço e, se aumentassem o ritmo, eram umas dores muito fortes - e, quando acordei, o meu marido estava sentado ao meu lado, a olhar para mim com uma tristeza e um sofrimento enormes. Foi nesse dia que decidi passar a ir sempre sozinha. Porque nunca quis que ninguém olhasse para mim como uma «coitada». Os doentes oncológicos não são coitados; são verdadeiros guerreiros!

Lembro-me sobretudo da minha última sessão de quimio, em que só pensava: «Por favor, se tenho de fazer mais uma que seja, morro!». O meu corpo já estava a sofrer as consequências da quimioterapia. Mas, em outubro de 2013, veio a notícia maravilhosa: não havia mais vestígios dos tumores! No entanto, para confirmar esse resultado, fui aconselhada a fazer 21 sessões de radioterapia (todos os dias do mês de novembro, com exceção dos fins de semana) e continuei a ter consultas regulares durante 5 anos.

E, em janeiro de 2018, recebi uma das melhores notícias da minha vida: a minha jornada no serviço de oncologia terminava ali! Saí do hospital e só uma frase me vinha à mente: " Veni, vidi, vici" - "Vim, vi e venci" (frase supostamente proferida por Júlio César).

Mas claro que esta vitória não era só minha; era da minha família, incansável no apoio e no amor que me deu, sempre (o meu marido, os meus filhos, os meus pais, as minhas irmãs e a minha irmã do coração, os meus sogros, os meus cunhados e as minhas cunhadas, os meus sobrinhos e sobrinhos do coração) e era também dos meus colegas e amigos, sempre preocupados e presentes.

Neste Dia Mundial de Luta contra o Cancro, quero deixar um agradecimento especial a todos os que acompanham os doentes em todos os serviços de oncologia e especialmente no do Hospital de Braga: obrigada pela vossa paciência, pela vossa empatia, pelos vossos sorrisos e pelas vossas palavras de ânimo sempre que me ia abaixo!

Ao longo da minha vida, nunca esquecerei estes cinco anos: a doença deixa, infelizmente, marcas para sempre.

Um pensamento especial para os que ainda lutam contra qualquer tipo de cancro: nunca se esqueçam que Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados. Lutem, olhando sempre para a percentagem da vida! (Um beijinho especial, Flávia!)

Francisca Borges


Maria Filomena Pereira Dias, comentou:

Francisca, és especial. OBRIGADA.  




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