Alguns dias em tempo de Covid
"Alguns dias em tempos de covid" por José Teixeira. Dia 19. O regresso ao trabalho
05/02/2021 (sexta-feira)
Há dias e situações que marcam este tempo que vivemos de pandemia.
Neste tempo de pandemia, vivemos confinados aos nossos lares, que se transformam, para muitos de nós, em local de trabalho, vivendo, assim, um "dois em um" que não sai de algumas dezenas de metros quadrados. E isto é muito chato.
Este, por acaso, não é o meu caso, pois tenho de vir todos os dias para o local de trabalho... Agora, mais que nunca, vivo aquela expressão antiga que diz "é de casa para o trabalho e do trabalho para casa", e tenho a minha hora de almoço, que me permite dar um passeio pela aldeia onde trabalho.
Dei comigo parado a ver uma pequena queda de água proveniente das chuvas dos últimos tempos e a pensar quão bonita é a simplicidade da natureza... E o mais engraçado é que isto já existia antes da pandemia, só que passava tudo ao lado... Não tínhamos tempo, aquilo que nos sobra agora.

08/02/2021 (segunda-feira)
Cadeiras vazias.
Nestes tempos em que estamos longe de tudo e de todos, porque o distanciamento assim o recomenda, dou por mim na hora do café das 10 a passar por onde sempre passo em direção a máquina para o tal café...
Passo sempre pelo salão onde estariam os seniores nas suas cadeiras sentadinhos e entretidos com as suas coisas, que interrompiam para responder ao meu BOM DIA quase todos em coro, e, ali, tanto eu como eles ganhávamos alguma energia e alegria para a outra parte da manhã após o café.
Agora passo e o silêncio é incomodador, passo por entre cadeiras vazias que não reagem à minha passagem, fico por momentos à espera de uma voz, mas não, está tudo confinado, cada um no seu quadrado (como diz a música) e eu lá sigo em frente, porque lá para a frente vai estar tudo bem.

09/02/2019 (terça-feira)
Nestes dias de confinamento, nem tudo deve ser triste, temos momentos de alguma alegria e muita esperança.
Hoje, dia 9 de fevereiro, foi dia de injetar a 2ª dose de esperança contra a covid... Um misto de esperança e de medo foi o que vi no corredor de acesso à sala onde foram administradas as pequenas doses da chamada esperança em líquido.
Neste momento de espera pela minha vez, penso nas diversas maneiras que o homem usa a inteligência que Deus lhe deu, lamento quem a usa para criar coisas muito más como esta pandemia e dou graças a quem a usa para procurar a cura para esta praga.
Por isso, este é um dia meio histórico e meio revoltante, pois não devia haver necessidade de tudo isto.

Dia 10 /02/21 (quarta-feira)
Hoje, o dia começou muito cedo, lá pelas 2 da manhã: acordei com o corpo todo a doer, numa sensação que o meu corpo estava a lutar contra alguma coisa estranha e realmente estava, a 2º dose da vacina da Covid deixou-me num alvoroço terrível.
Foi uma noite em branco, acompanhada de muitas dores em todo o lado possível.
Mas, finalmente, amanheceu e, pela minha janela, entrou um forte raio de luz vindo do sol, que já há algumas semanas não dava um ar da sua graça.
A luz de um sol que andava desaparecido deu-me força para lutar contra aquilo com que o meu corpo já lutava há algumas horas.
Afinal, já é velho o ditado que diz "depois da tempestade, vem a bonança".
Que este sofrimento seja em prol de dias melhores, que este momento mais doloroso seja substituído pelo raio de sol que entrou pela minha janela, hoje pela manhã.

11/02/21 (quinta-feira)
Dia chato, parte 2
Hoje foi dia de ir ao dentista deixar lá mais um dente.
Um dia chato a seguir ao também muito chato dia de ontem. Assim não está a correr lá muito bem, vamos ver se começam a aparecer dias mais felizes. Até a chuva resolveu que tinha de continuar, vai-se a ver o S. Pedro tem lá em cima a canalização toda rota.
Dia de dentista, lá foi o dente e o dinheiro da carteira e em troca fiquei com uma meia dúzia de pontos no lugar do "falecido dente"... Mas o pior disto tudo é que, por causa da pandemia, enquanto estava sentado na cadeira do dentista dei por mim a imaginar-me noutro cenário, mais parecia estar na NASA com tantos fatos, máscaras, viseiras e outras proteções que nem sei bem nomear. E, para piorar a situação, com tanto apetrecho de proteção, nem consegui ver os lindos sorrisos das meninas da clínica, salvaram-se os lindos olhos, menos mal...
Amanhã quero um dia porreiro!!!

13/02/21 (sábado)
Nas traseiras do meu prédio....
Hoje é sábado e o dia está cinzento. Da janela de minha casa, do meu pequeno quadrado, tenho vista sobre o espaço verde que tem um pequeno parque infantil, parque esse que, nestes últimos meses dedicados a esta pandemia, tem estado vazio e só.
Hoje não foge à regra, lá está o baloiço parado, o escorrega vazio e o silêncio reina num espaço que sempre foi cheio de sons melodiosos vindos de crianças felizes e de seus pais na conversa.
Hoje está-se assim nas traseiras da minha casa...

14/02/21 (domingo)
Nas traseiras do meu prédio... 2
Ontem, falei sobre o vazio e o silêncio do parque infantil e da zona verde nas traseiras do meu prédio.
Hoje, vou falar sobre o parque infantil e a zona verde das traseiras do meu prédio, só que de uma maneira mais alegre e com mais vida, como já não se via há muito tempo por estes lados.
A verdade é que a culpa é do sol de Primavera, que resolveu aparecer e, consigo, arrastou cá para fora os meus vizinhos e as suas crianças para contemplar o sol maravilhoso e fugir das quatro paredes onde têm estado metidos.
E, durante o dia, foi-se ouvindo e "matando" saudades, tanto do sol como do burburinho vindo das brincadeiras e das conversas em atraso de quem gozava este lindo dia de quase Primavera.

15/02/21 (segunda-feira)
Ontem, foi Dia dos Namorados... dia de celebrar o amor e, como calhou ao domingo e fomos visitados pelo bom tempo, foi um dia muito bom!
Apareceram lá por casa uns ramos de rosas que são da praxe nestes dias... e, junto das flores, vinha um pequeno porta-chaves. Só hoje reparei no que tinha desenhado e esse desenho fez-me pensar que, afinal, isto de celebrar o amor tem muitas vertentes.
E, na verdade, nesta altura em que vivemos, podemos celebrar e agradecer o amor e o empenho de todos os que lutam por nós nos hospitais, aqueles que se chegam à frente para que os corações continuem a bater e, assim, possam continuar a amar... E este agradecimento estende-se a todos que estão firmes na luta.... Cabe-nos a nós fazer a nossa parte para podermos celebrar este amor... Sempre!

16/02/2021 (terça-feira de Carnaval)
Pois é verdade, hoje é dia de Carnaval! Na verdade, nem devíamos ter Carnaval este ano, porque este seria o dia em que poderíamos colocar a máscara e estava tudo bem.
Quando fui para colocar a máscara de Carnaval, reparei que, afinal, eu já lá tinha uma a ocupar esse lugar há cerca de 1 ano... Tive, assim, de colocar a máscara carnavalesca sobre a habitual máscara de proteção diária e, assim, confesso que perdeu um pouco a piada... porque uma máscara ainda se vai aguentando, mas 2 já é de mais para uma cara só!
E o dia que até começou triste e frio, com muita chuva, depois, da parte da tarde, deu-nos uma trégua e trouxe algum sol envergonhado. Mas o dia estava condenado ao confinamento... Não vi da minha janela ninguém que desse um ar de Carnaval a minha rua.
E, assim, as minhas serpentinas ficaram na gaveta à espera de serem usadas como manda a tradição, no próximo ano...

18/02/2021 (quinta-feira)
"Se a vida é... da cor que a gente pinta, que a nossa seja um arco-íris... Que tenha a leveza dos abraços e a verdade dos afetos...".
Esta mensagem que, só por si, dispensa mais palavras, está escrita à entrada do Centro Social Pe. David, na casa de acolhimento de crianças.
E, realmente, não tem mais nada a ser dito... Um resto de bom dia!!!

19/02/21 (sexta-feira)
O dia estava sem chuva e, no fim de almoço, lá fui eu dar uns passinhos, para ajudar na digestão do almoço, pelo Bairro Social (outra das grandes obras do Pe. David) e recordar bons momentos vividos por estas ruas que agora estão tão diferentes daquilo de que me recordo do meu tempo de mais jovem... Sinais dos tempos!
No alto do bairro, está a chamada casa redonda onde andei na escola, e onde agora é o posto da GNR, que, por força da pandemia, está fechado. E é, realmente, uma pena ver uma casa, que foi sempre tão cheia de gente e de vida, ali parada e sem a vida que a caracterizava.
Pela casa redonda, desci os escadórios em direção ao apeadeiro e voltei ao trabalho.

Albino Ferreira comentou:
Partilha forte, com envolvência que nos ajuda a ultrapassar o contexto em que vivemos sempre com força e esperança.
Tess Machado comentou: