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NÃO SEI DE AMOR SENÃO

29-04-2021

Não sei de amor senão o amor perdido

o amor que só se tem de nunca o ter

procuro em cada corpo o nunca tido

e é esse que não pára de doer.

Não sei de amor senão o amor ferido

de tanto te encontrar e te perder.


Não sei de amor senão o não ter tido

teu corpo que não cesso de perder

nem de outro modo sei se tem sentido

este amor que só vive de não ter

o teu corpo que é meu porque perdido

não sei de amor senão esse doer.


Não sei de amor senão esse perder

teu corpo tão sem ti e nunca tido

para sempre só meu de nunca o ter

teu corpo que me dói no corpo ferido

onde não deixou nunca de doer

não sei de amor senão o amor perdido.


Não sei de amor senão o sem sentido

deste amor que não morre por morrer

o teu corpo tão nu nunca despido

o teu corpo tão vivo de o perder

neste amor que só é de não ter sido

não sei de amor senão esse não ter.


Não sei de amor senão o não haver

amor que dure mais que o nunca tido.

Há um corpo que não pára de doer

só esse é que não morre de tão perdido

só esse é sempre meu de nunca o ser

não sei de amor senão o amor ferido.


Não sei de amor senão o tempo ido

em que amor era amor de puro arder

tudo passa mas não o não ter tido

o teu corpo de ser e de não ser

só esse é meu por nunca ter ardido

não sei de amor senão esse perder.


Cintilante na noite um corpo ferido

só nele de o não ter tido eu hei de arder

não sei de amor senão amor perdido.


Manuel Alegre, Livro do Português Errante



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